segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Terapia da Esperança

O predomínio do ego, nos relacionamentos humanos, responde pelas incessantes frustrações e desequilíbrios outros, que assinalam a criatura humana.
Sem a correspondente consciência lúcida em tordo dos objetivos da existência carnal, o indivíduo que assim age faz-se vítima da personalidade enfermiça a que se acostumou como método de triunfo nos seus cometimentos.
Considerando que o inter-relacionamento pessoal é uma arte de dissimular sentimentos, afivela a máscara correspondente a cada momento variando-a conforme as circunstâncias, ocasiões e pessoas com as quais se comunica.
Acostumando-se à aparência, desloca-se da realidade, passando a viver inseguro nas armadilhas que prepara com o objetivo de não se permitir identificar.
Observando a conduta das pessoas inconsequentes que, às vezes, triunfam por meios dos recursos da fantasia e da bajulação, passa a imitá-las, deixando-se conduzir por absurdos comportamentos, distantes da realidade e do dever.
Estabelecem-se então conflitos íntimos, e a escala de valores padece a perda do significado, desaparecendo os parâmetros para a compreensão, tanto do que é certo como daquilo que é errado.
Superados os momentos de convívio no baile de máscaras a que se reduzem os seus encontros sociais, a identificação da pusilanimidade propõe-lhe o desrespeito por si mesmo, a perda da autoestima, o transtorno de comportamento neurótico.
Novamente chamado à convivência social, oculta o estado interior legítimo e volve à dissimulação.
Indispensável que o self predomine desperto no indivíduo, contribuindo para a sua realização, segurança e plenitude.
Embora a maioria expressiva de indivíduos prefira o jogo das personalidades, não é possível ignorar a prevalência do sofrimento disso decorrente. Negam a verdade, recusam auto-encontro, fogem do despertar dos valores que se acham adormecidos, e sucumbem.
Narram que um homem sábio dispôs-se a transmitir os seus conhecimentos, reunindo à sua volta inúmeros interessados.
À medida que as aulas se sucediam, decrescia o número dos candidatos ao aprendizado, ao ponto de, em pouco tempo, haver ficado apenas um.
Disse-lhe então, o mestre:
– Somente prosseguirei, se houver um número maior de discípulos.
Interessado em aprender, o candidato recorreu aos desertores e instou para que voltassem, o que redundou em total fracasso.
Ele meditou longamente e tomou a decisão de levar à aula vários manequins vestidos, que conseguiu em uma casa comercial. Colocou-os na sala e convidou o mestre para retornar às lições.
Surpreso, ele respondeu:
– Todos esses bonecos são incapazes de entender-me. São apenas bonecos …
– Isso mesmo – esclareceu o adepto, imperturbável -. Eles representam aqueles que se foram e que, mesmo quando aqui estavam, eram mortos, sem interesse. As vossas aulas eram-lhes muito profundas e eles não as queriam, mas eu estou interessado nelas, apenas eu.
Sensibilizado, o sábio, dele fez o aprendiz ideal que se tornou continuador das experiências.
O mesmo acontece nos palcos da sociedade hodierna, de alguma forma geradora de distúrbios psicológicos no comportamento dos atores que se apresentam nos dramas, nas tragédias, nas comédias do cotidiano.
A ocorrência torna-se tão predominante que somente os caracteres fortes conseguem aprofundar a busca da sua realidade, descobrindo-se, autoencontrando-se. Adotam um comportamento de autenticidade, preferindo seguir uma linha direcional de coerentes atitudes, à variação continua, instabilizadora, perturbante.
Enquanto o candidato ao equilíbrio não abdique dos métodos equivocados em vigência, assumindo-se e exteriorizando-se como é, permanecerá no ledo engano neurotizante. Sejam quais foras as análises e tratamentos que busque, toda vez que enfrente o grupo social fugirá para o disfarce, para o uso da persona.
A identificação dos objetivos da vida faculta os estímulos para o prosseguimento da busca de autenticidade, de realização. Sabe que o corpo é indumentária transitória e com esse conhecimento descortina o futuro, para o qual segue com firmeza. Adquire confiança em si mesmo e no porvir, passando a antecipá-lo desde agora, usando o bom ânimo, a coragem na luta, o sorriso de bem-estar.
Passa a ter a inteireza moral de não valorizar em demasia as pequenas ocorrências, os insucessos aparentes e ri de si mesmo com otimismo, enfrentando os obstáculos com os estímulos que levam a transpô-los.
Certamente que, ao retirar o personalismo dos seus atos e a simulação do seu comportamento alienante, não pretende chocar ou agredir as demais pessoas. Somente deseja ser íntegro, jovial, vulnerável, apresentando-se como pessoa, que busca outras pessoas em relacionamento social saudável, enriquecedor, pleno de esperanças.
Toma Jesus como o seu psicoterapeuta ideal e deixa que brilhe a luz nele escondida, com o que se torna livre e sadio.
Joanna de Angelis

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